sexta-feira, 6 de setembro de 2013


Colherada Mineira: metendo a colher em assuntos culturais, sociais e ambientais

Jornalista dorense coordena projeto que utiliza a fotografia e a literatura para despertar olhares sobre a cidade, sua gente e suas paisagens.

Ana Lúcia Lopes: preocupação com a cultura e a sociedade.
A fotografia e a literatura, enquanto formas de arte, despertam sentimentos nos seres humanos. Por acreditar nisso, a jornalista Ana Lúcia Lopes idealizou o projeto cultural Colherada Mineira – Literatura e Fotografia na medida certa, com recursos da Funarte (Fundação Nacional de Artes), através do Edital Microprojetos Rio São Francisco.

O projeto foi iniciado em agosto de 2012 e contou com várias etapas, entre elas a criação, a divulgação e a realização de oficinas para 16 participantes com idades variadas. Ana buscou utilizar a mão-de-obra e os serviços especializados da própria cidade, desde a criação da identidade visual do projeto até a impressão de todo o material.

A principal metodologia usada no projeto foi a realização de oficinas, que despertaram o olhar crítico e sensível dos participantes, com aplicação de técnicas de fotografia – válidas, inclusive, para câmeras de celulares – e expressão corporal. Ana Lúcia fez um curso de  especialização em fotografia digital, no Espaço da Fotografia, em São Paulo, exclusivamente para as oficinas, para que pudesse levar o conhecimento com mais profundidade e de maneira didática aos participantes. “Tudo foi feito de maneira simples, mas com profundidade e com a utilização de olhares apurados, como o de Sebastião Salgado”. A jornalista, que também é Coach, aplicou técnicas de coaching, para que cada pessoa presente pudesse descobrir os motivos de estarem ali. “Tudo foi possível porque contamos com o apoio e a aceitação de todos. Sozinha nada seria possível”, reconhece Ana.

Uma das fases finais do projeto será a realização de exposições fotográficas, que exibirão ao público os registros feitos pelos participantes. O primeiro evento deste tipo acontecerá neste domingo, dia 8 de setembro, de 8 às 14 horas, na feirinha dominical que acontece próxima à Praça da Igreja Matriz, ao lado do ponto de táxi. Serão 26 fotografias acompanhadas de legendas, de autoria dos participantes. A exposição seguirá em outras datas, em caráter itinerante (veja agenda abaixo).

O Colherada Mineira, enquanto projeto patrocinado pela Funarte, tem previsão para terminar neste mês de setembro, mas Ana Lúcia vai dar continuidade a ele, por iniciativa própria.

Paisagem natural: registro de Sueli Santos.
Acompanhe a entrevista que o blog fez com Ana Lúcia:

O projeto cultural Colherada Mineira utiliza duas linguagens diferentes para envolver os participantes na realidade de Dores do Indaiá e região: a literatura e a fotografia. Por que você decidiu utilizar essas formas de comunicação e como elas tem sido aplicadas no projeto?
A escolha dessas duas maneiras de aprender foi por acreditar e vivenciar que a fotografia e a literatura despertam “sentimentos” em nós, humanos. A fotografia ativa o olhar, e este faz as pessoas perceberem o que está à sua volta, as belezas, as necessidades, as culturas, as artes e sua gente. E a literatura possibilita a reflexão de toda a observação, de tudo que os olhos enxergam. Acredito que não basta enxergar ou olhar para algo, é preciso questionar, valorizar, refletir e até mesmo expressar essas análises e esses sentimentos. Por isto, e por experiência da minha profissão como jornalista, utilizei essas duas formas de comunicação. Muitas coisas são belas, mas com a ativação do olhar elas passam a ser observadas. Agora, quando acompanhadas de uma poesia, um texto, uma legenda, uma análise... elas se tornam belas, apreciadas, valorizadas e até mesmo questionadas. Acredito que o olhar e a expressão do que ele desperta faz com que as pessoas expressem o que sentem, e poder expressar o que sente é algo nobre e que merece ser compartilhado e – por que não? – ser aplicado em um projeto como este.

O estudo dos planos corporais foi apresentado nas oficinas
teóricas, que também contaram com muita reflexão.
 Dores do Indaiá, como diz o próprio projeto, tem belezas escondidas. Os participantes foram despertados para essa riqueza estética da cidade e suas pessoas de maneira natural, conforme o projeto foi se desenvolvendo? Ou algum tipo de técnica ou dinâmica foi utilizado para criar uma nova consciência e um olhar mais crítico nos participantes?
O projeto buscou ativar a sensibilidade de cada um a partir da sua realidade, dos seus sentimentos e daquilo que gostam de fazer ou olhar. Mas, utilizamos técnicas de fotografia, desde como cuidar do equipamento fotográfico, à postura para tirar uma foto, as fotos possíveis, técnicas de como expressar no registro fotográfico a grandiosidade de algo ou o inverso, aprenderam regras dos terços para ativação de um registro fotográfico com precisão. Também foi convidada para fazer parte do projeto a profissional de ciências sociais e de artes cênicas, Poliana Reis, que contribuiu com o estudo da visão, a utilização da música para a busca do “eu” melhor, e assim a contribuição das artes cênicas para que os integrantes pudessem compreender sobre plano baixo, médio, alto e altíssimo em um registro fotográfico. Os participantes puderam compreender que uma foto é mais que apertar um botão, é preciso ter técnica, postura e aquecimento corporal, o cuidado com esse corpo, com as mãos, a saúde da mente para refletir e buscar novos olhares e, finalmente, expressar a sua visão através do registro, através de uma fotografia e assim valorizar a cultura local, o povo, a beleza e até mesmo aquilo que parece despercebido. Mas, também buscamos, no projeto, valorizar o mundo de cada um. Os participantes tiveram a liberdade de trabalhar com aquilo que tem intimidade e/ou liberdade. Para isto, realizamos aulas práticas na rua à luz solar, com o uso de sombras, nas praças, na Fazenda Santa Fé e durante a Festa do Rosário, pelas ruas da cidade.

No decorrer do projeto, quais foram os maiores desafios que você precisou enfrentar, como coordenadora? E as surpresas mais agradáveis?
O projeto é recheado de desafios, desde o momento da escrita até agora, nesta fase em que estamos, que é de realizar as exposições fotografias e literárias de maneira itinerante. Os grandes desafios não foram dolorosos, pelo contrário, foram de muito aprendizado. E as consequências desses constantes aprendizados foram surpresas muito agradáveis. A aceitação do patrocinador oficial, a Funarte, dos participantes, o apoio da administração da cidade e de pessoas como o Ronaldo Costa, Cristina Sousa, João Paulo Noronha, Mara Barroso e cada participante que ajudou na divulgação e levou tudo muito a sério. Tudo foi possível porque contamos com pessoas que acreditaram no projeto, desde a parte de criação da identidade do projeto, feita pelos profissionais da Agência Ponte, como as pessoas da cidade, amigos e familiares. A melhor de todas as surpresas é ver a cidade que você ama registrada através de fotos e ouvir dos participantes coisas como “Nossa, aprendi tanto!”, ou simplesmente um “Muito obrigado, Ana”.

Em aula prática, a turma visitou a Fazenda Santa Fé,
onde entrou em contato com o cerrado e a 
história local.
O projeto incluiu trabalhos em campo, como a visita à centenária Fazenda Santa Fé e o registro da Festa do Rosário, estimulando os participantes a conhecerem – ou conhecerem melhor – dois atrativos turísticos e culturais de Dores do Indaiá. Como essas ações podem contribuir para a divulgação do turismo e da cultura locais?
Sim, visitamos a Fazenda Santa Fé, registramosa Festa do Rosário e também houve uma aula prática na Praça dos Coqueiros. Além disso, os participantes iam enviando fotos que postaram nas redes sociais para mostrarem o quanto já tinham mudado, ativado ou melhorado o olhar fotográfico sobre a cidade. Acredito que podemos contribuir com o turismo e a cultura local porque o conhecimento está através do olhar também e os registros fotográficos e os sentimentos dos participantes traduzem que a cidade é um local especial e que há coisas únicas e que não podem deixar de ser “saboreadas” e “colhidas”.
Temos muito ainda para fazer, mas os primeiros resultados estão surgindo. Quem sabe um dia possamos contribuir de maneira melhor para os circuitos turísticos, por exemplo. Vontade e olhar para isto temos de sobra (risos).
Agora, para o mês de setembro temos as exposições fotográficas e literárias que irão traduzir essa beleza do nosso local. Para outubro já temos o agendamento de uma visita dos participantes do Projeto Colherada Mineira na Aldeia Indígena Kaxixó, na região de Martinho Campos, também em Minas Gerais.

Em sua opinião, enquanto educadora, qual foi o resultado mais importante gerado pelo projeto? Quais são os desdobramentos destes resultados na comunidade, de maneira prática? Existe uma preocupação social?
Os resultados ainda não foram todos gerados, mas o que já podemos ver são os seguintes: a concretização de um sonho, o apoio das pessoas da cidade, o crédito dado pelo patrocinador oficial, a Funarte... Pessoas que se identificam com o mundo da fotografia e que viviam na mesma cidade puderam se aproximar, pois apesar de viverem na mesma cidade e esta ser pequena, as pessoas não trocavam essas  experiências. Agora formou essa rede de amizades e de trocas de aprendizados, de indicação de sites, de estudos. Também aconteceu a participação e o empenho de todos para que a exposição fotográfica fosse possível. Surgiu, ainda, o Clube da Fotografia, onde os participantes agendam passeios e encontros para fazerem registro fotográficos de pontos da cidade.
Acredito, sinceramente, que novos desdobramentos serão possíveis. Tudo é uma questão tempo, dedicação e de cuidado, além do comprometimento dos integrantes, mas tudo de maneira leve e com o sentimento de fazer algo por prazer, por desejo de se expressar e comunicar através do registro fotográfico ou através de seus pensamentos colocados em palavras, poemas ou simples frases.
Há uma preocupação ambiental , cultural e social.  Ambiental no sentido de preservar o meio ambiente, apreciar a natureza e usar os registro para denunciar também. Cultural no sentido de valorizar e compartilhar a cultura da região e social no sentido de formar essa rede de pessoas que se respeitam, trocam opiniões, aprendizados, ideais e que possam questionar, denunciar e se expressar.

Na Praça dos Coqueiros, os participantes do projeto
registraram um patrimônio dorense e aproveitaram
para verificar estado de conservação do local.
 Sabemos que haverá uma exposição dos trabalhos registrados pelos participantes e que essa exposição passará a ser itinerante, em alguns pontos da cidade. Qual o principal objetivo destas mostras e qual a expectativa dos participantes em relação à recepção do público aos seus trabalhos?
O objetivo da mostra terá um formato itinerante por possibilitar que públicos diferentes possam olhar as fotos, para que possamos compartilhar, para que as pessoas possam analisar, fazer seus comentários e conhecer o projeto e, acima de tudo, saber que o lugar onde vivem é lindo e que tem muitas coisas bonitas para serem colhidas, quer na natureza, na cultura ou na sua gente.
Sobre a expectativa dos participantes, a grande maioria está interagindo na rede social, por e-mail ou por telefone de maneira carinhosa e com a ansiedade comum e sadia de saber que outras pessoas vão ver um trabalho que foi feito. Espero de verdade que a população também curta essa exposição e cada frase dos participantes.

O projeto Colherada Mineira terá continuidade? Como e onde?
Espero que sim, esse é o objetivo. Tudo em seu tempo, passo a passo, com cuidado e com carinho.

AGENDA DO PROJETO COLHERADA MINEIRA

Exposição Projeto Colherada Mineira
Dia 8/setembro - Das 8h às 14h - Domingo - Na Praça da Feirinha (Próximo do Ponto de Táxi da Matriz)

Depois a Exposição do Colherada Mineira vai seguir de maneira itinerante pela cidade. Acompanhe as datas:

Dia 11/Setembro - A partir das 18h - Na Escola Irmã Luiza de Marilac
Dia 12/Setembro - A partir das 18h – No Colégio Municipal São Luís
Dia 13/Setembro - A partir das 17h - Na Praça Alexandre Lacerda Filho
Em outubro/2013 – visita à Aldeia Indígena Kaxixó, em Martinho Campos

Nenhum comentário: